A situação na China já não é das melhores: segundo a agência de notícias Reuters, o número total de casos confirmados do novo coronavírus chegou a 2.744 nesta segunda-feira (27), com 81 mortes.
A epidemia do 2019-nCoV é provavelmente muito pior do que parece, no entanto. Uma equipe de pesquisadores americanos e britânicos escreveu um artigo prevendo que o número oficial contabilizado a partir do epicentro do surto – a cidade chinesa de Wuhan – representa na verdade apenas 5% do número real de casos.
A análise, liderada por Jonathan Read da Universidade Lancaster (Reino Unido), levou em conta as estimativas divulgadas até terça passada (21). Até então, os casos confirmados somavam 440. Os pesquisadores, porém, sugeriam que o número real era mais próximo de 12.000.
Tentativa de contenção
A China e outros países têm tomado precauções para evitar a propagação do vírus. Por exemplo, no território semiautônomo de Hong Kong, oito casos foram confirmados e as autoridades proibiram a entrada de visitantes que estiveram na província de Hubei nos últimos 14 dias.
O governo chinês também colocou Wuhan em quarentena e suspendeu as comemorações do Ano Novo Lunar, em uma tentativa de conter o surto.
O G1 anunciou ainda que algumas grandes empresas fecharam suas portas ou pediram que os funcionários trabalhassem de casa.
Novo relatório
O novo relatório fez suas estimativas da propagação do vírus a partir de 1 de janeiro, quando se acredita que o vírus passou de animais para seres humanos. A partir de então, trabalharam com a suposição que qualquer contaminação ocorreu apenas entre humanos.
Os modelos preveem um cenário sombrio para fevereiro: mais surtos em cidades chinesas, mais infecções no exterior e explosões de casos em Wuhan, totalizando um número maior do que 190.000 infectados.
A previsão assusta, mas pode muito bem se tornar realidade se medidas radicais não forem tomadas, especialmente porque as pessoas podem carregar o vírus sem demonstrar sintomas (estes vão de pneumonia a febre e tosse).
De acordo com um estudo chinês publicado na revista científica The Lancet, dados clínicos dos primeiros 41 pacientes hospitalizados em Wuhan indicam que a doença pode atingir mesmo pessoas saudáveis, não somente idosos com problemas de saúde adjacentes, e que o período de incubação do vírus é de três a seis dias.
Quão infeccioso é o 2019-nCoV?
Os modelos criados pela equipe de Read estimam que o número de pessoas que uma vítima pode infectar, um fator conhecido como “número de reprodução do vírus”, esteja entre 3,6 e 4.
Uma doença respiratória “semelhante” como a síndrome respiratória aguda grave (SARS), por exemplo, tem um número entre 2 e 5. Já o sarampo, a doença mais contagiosa conhecida pela humanidade, tem um número de reprodução de 12 a 18.
Existem estimativas mais conservadoras deste fator, como uma feita por pesquisadores da Universidade de Harvard (EUA) cuja avaliação preliminar da transmissibilidade do 2019-nCoV variou de 2 a 3,3. Dito isso, qualquer coisa acima de 1 é ruim do ponto de vista da contenção da epidemia.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) indicou que o vírus já está na quarta geração de infectados, o que significa que uma pessoa pode ter sido contaminada a partir de outra contaminada por outra contaminada por outra contaminada por uma fonte não humana. Isso por si só sugere que os casos reais ultrapassam os confirmados.
Os cientistas reconhecem que quaisquer previsões, neste ponto, não podem ser consideradas precisas devido a limitação de informações disponíveis. Ainda assim, modelos como este podem se tornar ferramentas importantes para auxiliar as autoridades de saúde em suas decisões de como combater um surto de vírus.