A presença de Sergio Moro no debate da Bandeirantes – ao lado do presidente Jair Bolsonaro – surpreendeu e foi assunto nos bastidores da política. A campanha bolsonarista quer reavivar o antipetismo de 2018, e o ex-juiz se deixou usar contra o partido… mais uma vez.
Assim, remexe o incrível mar de lama em que meteu sua vida pública e em sua errática trajetória de vida. Mais uma vez, o ex-juiz, agora senador eleito, demonstra que não tem qualquer intenção de manter uma palavra rara, mas essencial na política: coerência.
O que importa, para Moro, é a política em si, nua e crua.
Uma rápida olhada no histórico mostra que ele surgiu e sobreviveu em torno de espetáculos. Não foi diferente ontem ao surgir dando uma “cola” para o líder da extrema-direita brasileira usar contra Lula, até aqui vitorioso nas eleições de 2022.
Desde quando era o juiz da Lava Jato, Moro nunca escondeu seu empenho em fazer parte da cena política de alguma forma. Em abril de 2018, após uma decisão sua, o ex-presidente – e agora líder em todas as pesquisas de intenção de voto – foi preso.
Logo depois ficou claro que o objetivo era que o petista não pudesse concorrer às eleições.
Em outubro do mesmo ano, apenas seis dias antes do primeiro turno, o mesmo Sérgio Moro divulgou a delação de Antônio Palocci à operação Lava Jato numa clara tentativa de prejudicar Fernando Haddad, substituto de Lula, e de beneficiar Jair Bolsonaro, que venceu a disputa.
Em janeiro de 2019, Moro tomou posse como Ministro da Justiça e da Segurança Pública do governo Bolsonaro. Neste momento, qualquer um com bom senso percebia que o “juiz sério de Curitiba” combatendo a corrupção” não passava de uma história “de fachada”.
Mas, de qualquer forma, Bolsonaro e Moro celebraram a “parceria”.
A relação harmoniosa durou pouco mais de um ano e terminou com outro espetáculo: em abril de 2020, Moro convoca uma coletiva de imprensa, anuncia sua saída do governo com fortes acusações a Bolsonaro de interferir na Polícia Federal. Uma acusação gravíssima. Na época ele disse que o PT não tinha praticado a intervenção que ele vira no governo Bolsonaro.
Ao anunciar a demissão, disse o seguinte: “tenho que preservar minha biografia”. O que será que aconteceu entre aquela frase e a participação de Moro nos bastidores do debate deste domingo, 16? O que será que restou de sua biografia?
Cabe lembrar que há poucos meses, em janeiro deste ano, Moro escreveu em seu Twitter: “Assim como Lula, Bolsonaro mente. Nada do que ele fala deve ser levado a sério. Mentiu que era a favor da Lava Jato, mentiu que era contra o Centrão, mentiu sobre vacinas, mentiu sobre a Anvisa e o Barra Torres e agora mente sobre mim. Não é digno da Presidência”.
Depois, o ex-juiz – lutando por uma vaga no Senado em um estado conservador – passou a dar sinais trocados. Mudou sua campanha, colou a imagem em Bolsonaro – entoando novamente a luta “contra o PT” – na política do mais baixo nível. Quando o segundo turno foi confirmado, Moro foi um dos primeiros a se posicionar a favor do atual presidente.
E, agora, aparece como “garoto de recados” de Bolsonaro.
A verdade é que Moro sempre foi parcial e continua sendo.
Assim como o Supremo Tribunal Federal (STF) definiu, ao anular os processos que condenavam Lula, que Moro havia sido parcial, os brasileiros têm mais uma sequência de provas de que… ex-juiz tinha outras intenções quando tomou decisões na sua cadeira de magistrado. Agora, de que não é digno de ocupar uma cadeira no Senado Federal.
No próximo capítulo, ele – também nessa toada – tentará voos mais altos. Não duvidem. Espero muito mesmo que seu passado não seja esquecido. E não só por um lado dessa polarização, mas por todos os brasileiros.
Fonte: VEJA