Depois de anos de hiato – um pouco maior do que o usual, por conta da pandemia – finalmente chegaremos à próxima fase da série The Crown, programada para novembro. As primeiras temporadas cobriram períodos mais longínquos e, portanto, tinham “menor efeito” para a Família Real. Ao contrário, até! Muitos se apaixonaram por Elizabeth II jovem, compraram a ideia do casamento feliz de mais de 70 anos, se sensibilizaram com os problemas do Príncipe Charles, (re)descobriram a dificuldade do romance dele com Camilla, e outras histórias esquecidas. Estava tudo certo porque o efeito foi positivo. Claro que algo iria mudar.
Desde o início, os Windsors respondiam que não viam a série e faziam questão de reforçar que é uma versão ficcionalizada de fatos reportados pela imprensa, nem todos verdadeiros. A armadilha estava anunciada e alguns foram sugerindo que a Netflix passasse a incluir um cartão introdutório reforçando que o que está ali não reporta a verdade, mas a plataforma (e o showrunner, Peter Morgan) se recusou. Pimenta nos olhos dos outros é refresco e não podemos negar que muita gente acredita que o que está na plataforma é quase um documentário e que tudo lá é 100% verdadeiro.
O problema é que todos sabiam que chegariam à Princesa Diana e tudo poderia ficar pior. Os quase 20 anos que Diana esteve entre eles foi um período conturbado, para ser delicada. Mais ainda, 25 anos depois de sua morte e 40 anos depois de tudo, finalmente as pessoas estavam esquecendo. E aí vem a Netflix relembrando tudo de novo. Só que, agora, com redes sociais e outro momento cultural, mais ainda, em tempos de fake news, fica a questão: quanto é ‘fake’ e quanto é ‘perto da verdade’ em The Crown? Você saberia dizer? Se nem a Família Real concorda entre ela (vejamos Meghan Markle e Príncipe Harry), com declarações do tipo “lembranças diferem”, imagina como ficamos para entender o drama?
O poster da 5ª temporada de ‘The Crown’.
Netflix/Divulgação
É, meu povo, a polaridade também alcançou a monarquia. Hoje há grupos de amigos de Diana, súditos apaixonados e amigos de Charles, que defendem o “perigo” da liberdade artística ao recontar a história de pessoas reais. Com os mortos, como Marilyn Monroe, que não pode se defender, costumamos falar de liberdade, mas, e quando as pessoas estão vivas? Hoje no Twitter, a hashtag defendendo que The Crown é um documentário (mesmo a Netflix achando que as pessoas entenderão que não é) dá tanto medo como os que querem controlar como a história será contada. A alternativa para evitar erros é se informar, ler, confirmar suas fontes. Quem faz isso com cuidado hoje em dia? O trailer da temporada entrou com maior agressividade do que nas temporadas anteriores.
As imagens do incêndio do Castelo de Windsor, há 30 anos, e as imagens e falas das pessoas preocupadas com a estabilidade da monarquia confirmam que a plataforma deu total liberdade para Peter Morgan falar e fazer o que quiser. Mas não é como se ele se sentasse e inventasse o drama, a base de toda série está no próprio livro da Princesa Diana e, sim, na famigerada entrevista da BBC que os filhos dela condenam por ter sido feita com base em documentos falsos para convencer Diana a falar mal de Charles. Honestamente? Assistir The Crown está quase virando obrigação para conferir o que vem por aí.
Quase 40 anos depois da morte de Diana, é correto que a Netflix cutuque a ferida sem avisar que se trata de ficção?
Divulgação/Netflix
Por um lado é sorte da produção que Elizabeth II já não esteja mais viva para lidar com mais fofocas, mas o Rei Charles III está claramente preocupado. É muito karmico que exatamente 30 anos depois que a rainha cunhou o famoso “annus horribilis” ele esteja voltando a assombrar a Família Real. Não por você, mas eu estou mais do que pronta para começar a maratona!