Um laudo complementar do Instituto Médico Legal (IML), concluído na quarta-feira (21) e obtido pela TV Globo, reforça que o menino Henry Borel, de 4 anos, não foi morto em acidente doméstico – como alegam o padrasto, Dr. Jairinho, e a mãe, Monique Medeiros, ambos presos pelo crime.
A perícia também revela que algumas lesões no rosto da criança foram provocadas por unhas.
O laudo anterior apontava 23 lesões, mas não detalhava que as marcas na face do menino – no nariz e próximas ao olho – eram compatíveis com “escoriações causadas por unha”. Os peritos não indicam como essas lesões podem ter sido causadas.
“As lesões na região nasal e infra orbital esquerda (…) são compatíveis com escoriações causadas por unha”, diz o texto do laudo.
A nova análise respondeu a perguntas feita pelo delegado responsável pela investigação, Henrique Damasceno.
Principais pontos do laudo:
- criança tinha marcas no rosco compatíveis com ferimentos feitos a unha;
- menino tinha várias lesões que não poderiam ter sido causadas em um único trauma – como a queda da cama alegada por Monique e Jairinho;
- foram descartadas as hipóteses de acidente doméstico ou morte por lesões causadas durante manobra de ressuscitação;
- Segundo o hospital, Henry chegou ‘mole, pálido, roxo’, com ‘rigidez na mandíbula’ e com temperatura corporal baixa; laudo aponta que ele deu entrada ‘já cadáver‘ na unidade;
- polícia crê que outras duas lesões foram causadas pela intubação realizada no atendimento médico da criança;
- não havia sinais de ‘maus-tratos crônicos’;
- marcas no antebraço são compatíveis com pressão digital;
- causa da morte foi “hemorragia interna” e “laceração hepática” causada por “ação contundente”;
- ‘evento que conduziu à morte’ ocorreu entre 23h30 e 3h30;
- não foi possível determinar a dinâmica das ações que causaram a morte.
Relembre o caso
Henry estava no apartamento com a mãe, Monique Medeiros, e o padrasto, o vereador Dr. Jairinho, no dia 8 de março. O casal alega que ele caiu da cama de madrugada e que eles o levaram ao hospital. A perícia do IML, no entanto, apontou sinais de violência.
Após semanas de investigação, os dois foram presos. A polícia acredita que o vereador tenha agredido Henry e que a mãe foi conivente. O casal nega o crime.
Os investigadores descobriram, por mensagens recuperadas em telefones celulares, que a babá de Henry avisou Monique de agressões anteriores sofridas pelo menino e cometidas por Jairinho.
Após a divulgação do caso, ex-namoradas de Jairinho fizeram denúncias de agressões contra elas e filhos delas. Os casos também passaram a ser investigados.
Na cadeia, Monique trocou de advogado e passou a ter uma defesa diferente de Jairinho. A nova equipe que a representa agora tenta que ela preste novo depoimento – o que, até esta quinta, não havia sido aceito pela polícia.
O inquérito deve ser concluído nos próximos dias e vai indiciar a dupla por homicídio.
Lesões por vários traumas
A Polícia Civil questionou se os peritos encontraram sete lesões espalhadas pelo corpo do menino e se todas poderiam ter sido provocadas por um “único trauma”. O laudo diz que as lesões foram encontradas, mas descartou a possibilidade de terem acontecido de uma única vez.
“A quantidade de lesões externas e internas observadas em diferentes regiões do corpo não pode ser proveniente de uma queda livre ocorrida no interior de um apartamento”, diz o laudo.
O laudo afirma que Henry teve um “conjunto de lesões” nas costas e que foram produzidas por “diversas ações contundentes”. As chamadas “ações contundentes” foram as agressões que levaram o menino a óbito, segundo o exame.
“O conjunto de lesões na região dorsal correspondem à incidência de diversas ações contundentes, oriundas de diferentes sentidos, e intensidades desiguais de dispersão de energia. As rupturas viscerais guardam relação direta com as lesões externas”.