Por pelo menos dez dias, fiscais que fazem parte de diversos órgãos estiveram na Mata do Mamão, na Ilha do Bananal, e encontraram indícios de crimes ambientais. No local vivem povos indígenas isolados, mas mesmo assim havia sinais de invasão e degradação do meio ambiente.
A força-tarefa composta pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (Icmbio), Polícia Federal (PF) e Fundação Nacional do Índio (Funai), encontrou carcaças de pirarucu, cervos e pássaros abatidos por pescadores e caçadores e madeiras extraídas de forma ilegal. Também havia barracos montados e ainda a presença de gado, que é proibida na Mata do Mamão.
Os representantes dos órgãos consideram a situação muito grave, já que as ações de caçadores e pecuária ilegal está causando a diminuição da área da mata.
“Isso tudo é muito grave por se tratar de uma área intangível dentro do Parque Nacional do Araguaia. Por se tratar de uma área em que há uma decisão judicial que obriga dos órgãos à proteção daquela área e por se tratar de um local que é santuário para os indígenas. Tanto que eles denominam a área da Mata do Mamão como ambiente mágico, místico inclusive”, explicou o chefe do parque, Lino Rocha.
Nesta terça-feira (8), os integrantes da força-tarefa se reuniram para definir as medidas que serão adotadas para proteção do local. Mas a principal delas é identificar os responsáveis pelos crimes ambientais cometidos na região.
“A partir de agora, com esse relatório detalhado, nós vamos fazer uma análise do que se enquadra na instrução normativa firmada entre Ibama e Funai no ano passado, que estabelece quais atividades devem ser licenciados no âmbito das reservas indígenas”, disse o superintendente do Ibama no Tocantins Isac Braz da Cunha.
O delegado da Polícia Federal Marcelo Dutra destacou quais os principais crimes identificados na mata. “As questões graves ali são relacionadas obviamente ao meio ambiente, que é a criação de gado, o impedimento de circulação da fauna loca. Isso também é outro problema da região, a pesca ilegal e a caça”.
O coordenador regional da Funai Osmar Gomes afirmou que a tecnologia será usada para que os crimes não continuem na área. “Nossos cuidados vão ser intensificados. Vamos procurar usar otimizadores tecnológicos e ações precisas, oportunas e acertadas”.
Proteção para indígenas isolados
Em uma operação que combateu incêndios na Mata do Mamão em 2018, brigadistas identificaram pegadas que poderiam ser de indígenas do povo Avá-Canoeiro, que preferem ficar isolados na região. Na época a Procuradoria da República pediu na Justiça que o local fosse isolado por haver poucos indivíduos dessa etnia.
Em 2019, a Justiça Federal proibiu a circulação de pessoas na mata do mamão para a proteção dos moradores do local. Mas ficou comprovado que houve descumprimento da ordem.
“Não há tolerância do Ministério Público Federal com a existência de gado de terceiros dentro da área do Parque Nacional do Araguaia. Nós já mandamos ofício ao ICMBio colcoando essa posição e recomendando que fosse feita a autuação de todos os retireiros que estivessem criando gado da área do parque nacional. Espero que a partir dessa operação e com esse diagnóstico que foi feito, que outras medidas possam vir a ser tomadas para que venham trazer essa efetividade”, pontuou o procurador da República Álvaro Manzano.
Segundo o indigenista Daniel Cangussu, os povos podem estar correndo riscos diante de tantos crimes ambientais.
“Se a gente considerar que estamos falando de um território que tem povos indígenas isolados, esse povo está a mercê de caçadores ilegais, do avanço do agronegócio e de toda uma política ilegal de manejo desse território. É um ambiente hostil para que populações diminutas tentarem encontrar um ambiente de refúgio”, disse.
E quem mora na região conta que a cada dia a situação fica pior e faz denúncias. “Tem queimadas, retireiros, pescadores ilegais. A gente se preocupa muito com isso. Não só o povo Ãwa, mas os indígenas da ilha são ameaçados, porque a gente não sabe quem são eles”, contou a indígena Typyre Silva Ãwa.
Fonte: G1